2/18/2010

Canto de Pierrô e Colombina

  
 Vem pulando e dançando. Sorriso estampado no rosto e na alma. Dia de festa, festeja! Seu olhar é daqueles que transmitem a mais pura alegria do dia. É dia de festa! Brinca com o mundo como o mundo brinca com ele. Ainda assim, só. Dança, corre, gira e pula pela multidão. Sorrindo e recebendo sorrisos... sinceros, amarelos, falsos, abertos, de uma infinitude. Sorri mas sorri só. Pierrô.
   Carrega uma placa. Ali tenta esconder sua solidão. Na multidão ele brinca, procura... dança, pula... distrai-se... encontros, desencontros... idas, fugas. De rosto em rosto o mundo passa. Não deixa lembranças nem marcas, boas ou ruins. Só. Distrai-se ou quer se distrair. Dança e dança e pula. Fecha os olhos, procura ali. Não acha e segue.
   Pierrô desiste de sua busca. Não triste, desacreditado. Talvez jamais havia procurado. Rostos passam e passam. Segue pela multidão. Atravessa-a sem prestar atenção aos rostos. Tempo é passageiro. Nada importa. Apenas segue ao lado do tempo. Sem saber por que ou para quê. Placa em riste. Não deseja estar só, mesmo que os rostos passem, está com eles. De alguma forma.
   Alegria! Dia de festa! Pula, brinca, sonha um mundo de amor. Anseia pelo fim da solidão dos homens, do amor entre os seres. O tempo pára, surge um rosto. A placa é vista. O rosto tem forma! Voz! Expressão... Amor... Colombina! Não fica, o rosto, Colombina, se vai.
   Coração na mão, alegria na alma, segue pela multidão como antes. Sem medo de ser feliz, se expressar. Seu destino é viver. Nesse momento vive um passo atrás do outro. Um sorriso atrás de um olhar que busca um sorriso. Sorri e olha. Ri e chora. Dança!.
   De novo o tempo pára. Coração aperta e a placa levanta. É vista! Isso não importa mais... Colombina tenta ir antes que Pierrô fale. Destino... as palavras de Pierrô eram como cânticos divinos. O rosto fica dessa vez. Mesmo afastado permanece próximo. Ele canta!... Ela ouve!.. Ela canta!... Eles cantam!
   Talvez não exista amor a primeira vista, não para eles, mas com certeza há ao primeiro canto. Cantaram e suas vozes se entrelaçavam num único cântico, por mais que emitissem qualquer som diferente um do outro. Dois rostos... Arlequim, solitário e vadio... Colombina, de olhos enigmáticos e aparentemente recatada. Cantam e seu canto é sobre amor. Amor entre homem e mulher e entre os seres. Despedida.
   Amor... solidão jamais. Dia de festa! Paixão? Avassaladora! Colombina e Arlequim seguem seu caminho. Esperam um dia se encontrar, acreditam que o destino os preparou para algum futuro distante. Dia de festa! O cântico ecoou e o tempo pára novamente. E seus rostos surgem nitidamente para cada um. Cantam... amam... aprendem... vivem!
   Separam-se! Sabe que não é mais um solitário. Apaixonado! Destino! Sabe que ele está lá... na multidão. Andam! Sabem que não estão sós. Andam e esperam que o tempo pare novamente. Irá parar, é a força do canto de amor de Arlequim e Colombina...


L.P.Coutinho

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